Certa noite após o culto direcionei-me ao pastor para tirar algumas dúvidas sobre a Palavra. Ele carinhosamente me explicou e sanou todas minhas dúvidas, no entanto, ao assimilar uma de suas respostas e afirmar que interpretação do texto bíblico mencionado me parecia extremamente complexa revelei-lhe inconscientemente minha dificuldade. Com sinceridade em sua voz, ao invés de um tom de reprovação, me falou: “Alguns detalhes da Bíblia soam difíceis de entender porque você ainda não construiu afinidade com ela”. Essa frase doeu em mim, doeu muito. Naquele momento eu tinha tudo para entender como uma reprovação e talvez agir como muitos dos discípulos de Jesus dizendo “dura é esta mensagem” (João 6:60), mas aquelas palavras me pareceram tão sinceras e profundas que desencadearam um momento reflexivo nos dias posteriores e um enorme desejo de mudar minha realidade.
Embora dura, pude compreender melhor aquela frase no dia seguinte, porque percebi que ainda que eu buscasse aproximação com Deus e através de planos devocionais tenha sentido sua presença e palavras, esses planos aumentaram minha devoção, mas não minha afinidade com as escrituras. Somente após toda essa situação entendi que a afinidade com as escrituras que sempre admirei, na qual a pessoa sabe exatamente a localização do teto que deseja, consegue mencioná-lo, explicar cada detalhe e relacionar passagens, só poderia ocorrer quando eu mesma, no secreto, junto ao Pai esquadrinhasse seu Livro.
Quando se estuda sobre a pesquisa acadêmica e a formatação ABNT (padrão de formatação proposto para gêneros textuais acadêmicos) encontra-se o termo “apud”, utilizado quando se cita a citação de um autor citando outro. Quando utilizamos de meditações e devocionais, recebemos um acréscimo de informação, entretanto, estamos fazendo um “apud” ao referenciar aquele que utilizou a Bíblia como referência, ao invés de buscar a informação na fonte. Assim como essa realização não é recomendada para ser empregada em toda a construção do texto acadêmico, também não deve ser nosso único contato com a Palavra.

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